"As palavras vão saindo assim.Eu não as escrevo, elas já são assim:escapulidas de mim..."

quinta-feira, 29 de abril de 2010


INATINGÍVEL*
Para Ivana Alvim

Folhas ao vento
céus e trevas
sois neons.
Fúrias,clamores,
megatons...

Explosões
cascalhos de razões.

Resta uma dúvida:
o alvo das paixões...

*Publicado no Recanto das Letras

terça-feira, 27 de abril de 2010


SAPATILHAS*

Saltitantes
invadem meus sonhos.
Num sobressalto
apanho-me contando estrelas
rasgadas como sobrancelhas em flor
despetaladas ao luar que congela o céu
tal qual um aplauso de amor.
*Publicado no Recanto das Letras

segunda-feira, 26 de abril de 2010


AVÔ*

Meu avô
dizia que certos
mistérios da vida
eu entenderia
um pouco mais tarde
talvez,quem sabe,
quando tivesse a idade dele.
Cresci,vivi
e acabei por descobrir
que o que era mistério
para o meu avô
fazia parte da vida
de um adolescente qualquer.

Meu avô morreu
quando eu tinha 5 anos.
Hoje eu tenho 30
e já me sinto tão avô...

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

sexta-feira, 23 de abril de 2010


SAARA*

Entre nós
nada enlouquece
a não ser a sós
estamos de sol a sol...

*Publicado no livro A Mentecapta

quinta-feira, 22 de abril de 2010


INFÂNCIA*

Quebra o silêncio
um dominical badalo
de missa na praça.
Banho tomado
-sapato branco-
final de tarde
na roça noite.

Tesão é pecado
mas que diabo
de aflição danada!
Serve no mato
-Leninha-
café no colo
lá vem vovô.

Não fosse vovó
o couro comia...

*Publicado no livro A Mentecapta

quarta-feira, 21 de abril de 2010


A MINHA VERDADE*

A minha verdade
é que estou tenso
durmo pouco
tusso muito
e nenhuma mentira
me conforta.

A minha verdade
é que não penso
leio Bucowski
à luz de velas
esmurro a parede
e chuto a porta.

A minha verdade
na verdade
pouco importa...
*Publicado no Recanto das Letras

quinta-feira, 15 de abril de 2010


SÍSTOLE&DIÁSTOLE*

Irresistíveis emoções
desafinan o pulsante compasso
de certos corações.

Até quando aguentarão eles
sistólicas mágoas
de diastólicas paixões?

*Publicado no livro A Mentecapta

FILETE*

Pela porta entreaberta
um filete de luz revelador:
poeira ambiental
de um cotidiano a dois.

Lar doce lar:
qual de nós insiste em acreditar
que um dia toda essa poeira
ainda vai assentar?

*Publicado no livro A Mentecapta

sábado, 10 de abril de 2010


VENTO*
para Gi

Ventou
no solar
do meu eu
e eu
solo uma
canção ao vento
e em volta
do seu cantar
eu volto
e revolto
o solo
desta canção
de amor
que nos venta.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

sexta-feira, 9 de abril de 2010


NAUFRÁGIO*

Tripulo o revolto navio
do nosso amor
por um fio.

Águas turvas de ilusões:
em seus rios
não deságuam paixões.

Fiquei foi
a ver navios.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quinta-feira, 8 de abril de 2010


NOITE*

As estrelas
cautelosamente
brilham(apenas)
o suficiente.
Já a lua
impertinente
invade o nosso
obscuro ambiente.

Publicado no livro A Mentecapta

AMANHECER*

Amanhece.
O sol já promete,
os pássaros cantam
em nossa janela,
a última estrela se vai.
O céu é azul,
o verão é sincero,
a praia nos espera
com todo o tempo do mundo.

É manhã
na maioria das cabeças.
Amanhece nos bocejos
e nos bons dias,
nos cafés com leite
e pães com manteiga.
Amanhece a rotina,
amanhece de madrugada,
amanhece de guarda-chuva,
amanhece o mau tempo,
amanhece o mau humor
em nossos corações.
E, repare:
em tudo amanhece.

Até mesmo
em nosso amor de ontem.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quarta-feira, 7 de abril de 2010


COVARDIA*

Caminhava na areia molhada
sem saber que sua estrada
logo desapareceria
numa onda espumada.
Que covardia
uma vida sujeitada
à ressaca de um dia
com maré mal humorada!

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

terça-feira, 6 de abril de 2010


DISTÂNCIA*

Havia uma porta entreaberta.
Havia uma trilha a seguir.
Havia um rastro.
Havia um caminho.
Havia um destino.

Havia sem ter nada haver:
havia um entre
entre eu e você.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas