"As palavras vão saindo assim.Eu não as escrevo, elas já são assim:escapulidas de mim..."

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DAY AFTER*


Ventava

e iluminava:

raios de sol destronavam

os últimos lúdicos soluços

de uma noite (como sempre)

longa e dolente.


Da janela entreabriam-se

paisagens mal dormidas:

sonhos e cheiros,

marolar e maresia.


Pesadelos com azia,

ecos e um súbito momento

de amnésia

martelavam a minha cabeça.


Ah

que cabeça a minha!

(Se é que era mesmo

a minha.)


*Publicado no livro A Mentecapta

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

SINTAXE*


A palavra
assalta minha alma
sem compaixão:

uma única andorinha
faz meu verão
.

*Publicado na coletânea Poéticas Mentes e Recanto das Letras

sábado, 20 de novembro de 2010

SEDUÇÃO


(para Twister)

Os olhares delatam o desejo

nem sempre possível

de ser satisfeito.

Ainda assim

inevitável é a tentação.


Nenhuma palavra

traduziria tal momento

posto que tesudo

era o silêncio vibrante

daqueles mudos gestos.


Tento dizer que vontade

(ela insiste que pode voltar)

é coisa que dá e passa.


O (eu) caçador nem sonhava

ser ele àquela altura

a própria caça.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

PALCO


Descortinado
em meio
àquela euforia

entregou-se
de corpo e alma
à nostalgia.

O que sentia
não era
o que se via.

A plateia
de pé
o aplaudia.

E daí?
Sequer ouvia...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A CONSCIÊNCIA DO VOTO

Premeditado no hoje,

conscientizado no amanhã.

Uma chance, um resgate,

uma ilusão desigual.

Serenidade no embate:

FARSA SOCIAL

X

ÉTICA CIDADÃ

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


PEITO

Aqui dentro
não dito
o ritmo.
Em tempos
descompassados
me desmancho
em emoção
e absorvo
os absurdos
da razão.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010


ROTINA*

Um eterno
vai e vem,
versa sem vice

costurando destinos
nas ferrugens das agulhas
de um tricô mesmice.

*Releitura de Rotina, publicado no livro A Mentecapta

quarta-feira, 18 de agosto de 2010




MOTIVO MUDANÇA*

Cada coisa
em seu devido lugar.
É tudo muito certinho.

Não gosto não...

*Publicado no livro A Mentecapta

Foto:Kelsey C

sexta-feira, 13 de agosto de 2010


PREFÁCIO FEMININO*

O prefácio informava
que o livro se relacionava
com o tipo de literatura
que se desejava ler:
um pouco de loucura,
um pouco de prazer.

Suaves pitadas eróticas
numa narrativa desenvolta
sem muitas pretensões.
Não transmitia maiores emoções
nem menores temores.

Clamava um mínimo de paciência,
algumas parcas horas
de ocupadíssimas senhoras
sem maiores senhores...

*Releitura de Prefácio Feminino publicado no livro Inverno e outros poemas, baseado no prefácio do livro "What does a woman want?"

Foto: S. Dahnoa

domingo, 8 de agosto de 2010


OCIOSA*

Duas e meia:
nada de novo no ar.
Deitada no chão da tarde vazia
aguardava a azia
do almoço indigesto.
Pseudo mordomia
de um repouso funesto.

Seis e meia:
desafinados bocejos
ecoam na recém chegada escuridão.
Vozes na televisão
que nunca se desliga
perturbam a viagem da mão
ao redor da obesa barriga.

*Releitura de Ócio, publicado no livro Inverno e outros poemas

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


GOLE

O último gole
é o começo
do fim.

Entre o fim
e o começo

(no mínimo)
um tropeço.

*Ouvindo Janis Joplin "ressacado em blues"

segunda-feira, 26 de julho de 2010


OBRA*

A prima
sempre acaba
em rima...

*Publicado na coletânea Rápida Mente


terça-feira, 20 de julho de 2010


REFLEXÃO*

A lua
tão cheia
refletia

dentro de mim
(o sol)
ainda era dia.

*Releitura do poema "Domingo à Noite" publicado no livro A Mentecapta

quinta-feira, 15 de julho de 2010


BLACK TIE*

Ciranda cintilante,
alcoólica rodante
no tremular de nossas
cabeças dançantes,
em descompasso
com a lentidão
musicalmente suave.

O valsar desproporcional
alegra o ambiente
-ambiental falsidade-
aparente.

Descontente
procuro fugir
-meu olhar não encontra recanto-
no entanto
cá estamos cantando
um ao outro,
insistindo, compactuando
socialmente.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

segunda-feira, 12 de julho de 2010


FALAS ALHEIAS

Incomodam-te a tal ponto
que isola-te solitária
obscura de razão

e na escuridão
de tuas salas
inibes reais falas.

Entrevam-te:
teu sonhos, tuas palavras,
mofam-te

e calas...

*Foto:Carolina Hernández

quarta-feira, 7 de julho de 2010


AÍ DENTRO
Com o pensamento em Manuela e Valentina

Aí dentro
tudo
que é sentido
tem
sentido.

quarta-feira, 30 de junho de 2010


JANELA ÍNTIMA*

As lentes desnudam ao longe
relapsas intimidades
geradoras de curiosidades
íntimas do observador.

Um nu revelador
com passos; compassos
produzem um forçado passear
à procura de mínimos gestos.

A mulher alisando o próprio corpo
aveluda seus meios,
causa espanto a olhares alheios,
masturba-se com perfeição.

A mulher com o sexo aveludado
mata qualquer homem de tesão.

*Releitura do poema Janela Íntima publicado no livro Inverno e outros poemas

terça-feira, 22 de junho de 2010


LINHA

Uma
palavra
sozinha
cabe
em
cada
linha.

Uma
linha
sozinha
cabe
em
cada
verso.

Um
verso
linha:
cada
palavra
cabe
sozinha...

quarta-feira, 16 de junho de 2010


BEIJO*

Um trote de língua
devaneio na tua boca
o hálito sabor implora
a saliva que mingua
nessa sede louca
de tesão que afora.

*Releitura do poema Sede Louca publicado na coletânea Poéticas Mentes e Recanto das Letras

quarta-feira, 9 de junho de 2010


SOLIDÃO*

Vozes do além
conspiram,atentam
contra a monotonia
(falsidade de paz)
encruada num interior
melancolia.

Tais sussurros
ardem os ouvidos
queimando desejos
soturnos e proibidos,
turvos idos,
jamais vividos

e(muito menos)
divididos.

*Publicado no livro A Mentecapta

sábado, 5 de junho de 2010


VIDA*

Gotejo
pingo emoções
à procura
de uma aventura
escondida.

Farejo
novas sensações
na loucura
que perdura:
é a vida.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quarta-feira, 26 de maio de 2010


QUIMERA*

Dentro de cada bela
existe uma ferocidade interna
internamente fera
é a força do amor por ela.

Bela
é força da fera
que se esconde nela.
Fera
é a força tão bela
que o amor revela.

Dentro de cada fera
existe uma beleza interna
internamente bela
é a força do amor quimera.

*Releitura do poema "A bela e a fera" publicado no livro Inverno e outros poemas

sexta-feira, 21 de maio de 2010


RELUZENTE

No escuro da mente
carente de clarezas
vago lume reluzente
piscando incertezas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010


ABISMO*

Paira à beira do abismo
o fruto da mente mal feita:
uma incurável e obesa consciência.

Já há muito resiste imperfeita
mas inconscientemente aceita
sem despertar a menor suspeita.

*Releitura do poema "Consciência" publicado no livro Inverno e outros poemas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010


ERRATA


Onde se lê de vez
leia-se talvez.

Nada escrito é lido
perfeitamente certo
se o que se lia ao longe
agora é lido de perto
releia-se o incerto.

Escrever
é um vício mutante
o que acabei de afirmar
pode se negativar
a qualquer instante.

Meu verso
é um facho de luz
que induz na sua mente
um provável desfecho,
porém é apenas semente:


mente...

terça-feira, 11 de maio de 2010


NATUREZA MORTA*

À margem
na grama rasteira
sepultadas
ao sabor do vento
que lento
devolve
o verde perfume
outrora incluso
nesta paisagem
de folhas mortas

*Publicado no Recanto das Letras

sexta-feira, 7 de maio de 2010


TEIA*

A saudade
tonteia
a esperança
perdida:
vã lembrança.

Desnorteia
as entranhas
feito teia
tecida
sem aranhas...

*Publicado no Recanto das Letras



quinta-feira, 6 de maio de 2010


PELA JANELA
Para Bitsy

Durante a noite fria
orgasmos e calmaria.
E a madrugada?

Essa(quem diria?)
já virou dia...

terça-feira, 4 de maio de 2010


FIO*

Você descobriu a ponta
do fio de nossa meada
e agora tenta dar nós
em nós.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

segunda-feira, 3 de maio de 2010


CONVERSA FIADA*


naquela praia
escrevi que lhe amava
na areia molhada.
Mas quem disse
que ela queria ser escrita?
Areia maldita,
agora você não me acredita
e acha que papo
de areia molhada
no fundo não passa
de conversa fiada.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quinta-feira, 29 de abril de 2010


INATINGÍVEL*
Para Ivana Alvim

Folhas ao vento
céus e trevas
sois neons.
Fúrias,clamores,
megatons...

Explosões
cascalhos de razões.

Resta uma dúvida:
o alvo das paixões...

*Publicado no Recanto das Letras

terça-feira, 27 de abril de 2010


SAPATILHAS*

Saltitantes
invadem meus sonhos.
Num sobressalto
apanho-me contando estrelas
rasgadas como sobrancelhas em flor
despetaladas ao luar que congela o céu
tal qual um aplauso de amor.
*Publicado no Recanto das Letras

segunda-feira, 26 de abril de 2010


AVÔ*

Meu avô
dizia que certos
mistérios da vida
eu entenderia
um pouco mais tarde
talvez,quem sabe,
quando tivesse a idade dele.
Cresci,vivi
e acabei por descobrir
que o que era mistério
para o meu avô
fazia parte da vida
de um adolescente qualquer.

Meu avô morreu
quando eu tinha 5 anos.
Hoje eu tenho 30
e já me sinto tão avô...

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

sexta-feira, 23 de abril de 2010


SAARA*

Entre nós
nada enlouquece
a não ser a sós
estamos de sol a sol...

*Publicado no livro A Mentecapta

quinta-feira, 22 de abril de 2010


INFÂNCIA*

Quebra o silêncio
um dominical badalo
de missa na praça.
Banho tomado
-sapato branco-
final de tarde
na roça noite.

Tesão é pecado
mas que diabo
de aflição danada!
Serve no mato
-Leninha-
café no colo
lá vem vovô.

Não fosse vovó
o couro comia...

*Publicado no livro A Mentecapta

quarta-feira, 21 de abril de 2010


A MINHA VERDADE*

A minha verdade
é que estou tenso
durmo pouco
tusso muito
e nenhuma mentira
me conforta.

A minha verdade
é que não penso
leio Bucowski
à luz de velas
esmurro a parede
e chuto a porta.

A minha verdade
na verdade
pouco importa...
*Publicado no Recanto das Letras

quinta-feira, 15 de abril de 2010


SÍSTOLE&DIÁSTOLE*

Irresistíveis emoções
desafinan o pulsante compasso
de certos corações.

Até quando aguentarão eles
sistólicas mágoas
de diastólicas paixões?

*Publicado no livro A Mentecapta

FILETE*

Pela porta entreaberta
um filete de luz revelador:
poeira ambiental
de um cotidiano a dois.

Lar doce lar:
qual de nós insiste em acreditar
que um dia toda essa poeira
ainda vai assentar?

*Publicado no livro A Mentecapta

sábado, 10 de abril de 2010


VENTO*
para Gi

Ventou
no solar
do meu eu
e eu
solo uma
canção ao vento
e em volta
do seu cantar
eu volto
e revolto
o solo
desta canção
de amor
que nos venta.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

sexta-feira, 9 de abril de 2010


NAUFRÁGIO*

Tripulo o revolto navio
do nosso amor
por um fio.

Águas turvas de ilusões:
em seus rios
não deságuam paixões.

Fiquei foi
a ver navios.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quinta-feira, 8 de abril de 2010


NOITE*

As estrelas
cautelosamente
brilham(apenas)
o suficiente.
Já a lua
impertinente
invade o nosso
obscuro ambiente.

Publicado no livro A Mentecapta

AMANHECER*

Amanhece.
O sol já promete,
os pássaros cantam
em nossa janela,
a última estrela se vai.
O céu é azul,
o verão é sincero,
a praia nos espera
com todo o tempo do mundo.

É manhã
na maioria das cabeças.
Amanhece nos bocejos
e nos bons dias,
nos cafés com leite
e pães com manteiga.
Amanhece a rotina,
amanhece de madrugada,
amanhece de guarda-chuva,
amanhece o mau tempo,
amanhece o mau humor
em nossos corações.
E, repare:
em tudo amanhece.

Até mesmo
em nosso amor de ontem.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

quarta-feira, 7 de abril de 2010


COVARDIA*

Caminhava na areia molhada
sem saber que sua estrada
logo desapareceria
numa onda espumada.
Que covardia
uma vida sujeitada
à ressaca de um dia
com maré mal humorada!

*Publicado no livro Inverno e outros poemas

terça-feira, 6 de abril de 2010


DISTÂNCIA*

Havia uma porta entreaberta.
Havia uma trilha a seguir.
Havia um rastro.
Havia um caminho.
Havia um destino.

Havia sem ter nada haver:
havia um entre
entre eu e você.

*Publicado no livro Inverno e outros poemas